terça-feira, 29 de março de 2011

Prefácio do livro" Educação popular na escola pública" de Ana Maria do vale

 Caminhos da Educação popular

Por Moacir Gadotti

     A educação popular nasceu fora da escola, mas como concepção geral da educação ela teve e tem grande influência na educação formal. É na intersecção da educação popular com a educação pública que caminha essa tese.

     Pode-se dizer que até a segunda guerra mundial, a educação popular era concebida como a extenção da educação formal para todos, sobretudo para os habitantes das periferias urbanas e zonas rurais. Depois, nos anos 50, a educação popular foi concebida como educação de base, como desenvolvimento comunitário.

    No final dos anos 50, duas são as perspectivas mais significativas da educação popular; a primeira entendida como educação libertadora e a segunda como educação funcional, isto é, o treinamento de mão -de- obra.Nos anos 60 e 70 essas duas correntes continuaram, a primeira na educação não-formal, alternativa à escola, e a segunda, como suplência da educação formal.

     As condições poiticas e sociais da década de noventa não são as que possibilitaram a educação popular nas décadas precedentes. Naquela época a América Latina estava dominada por governos autoritários. Não é de se estranhar que a educação popular fosse concebida como "alternativa" à educação concebida pelo Estado.

    A Educação Popular nasceu na América latina no terreno fértil das utopias de independência, autonomia e libertação, que propunham um modelo de desenvolvimento baseado na justiça social. Para esse modelo de educação populear a conquista do Estado era fundamental. Porem esse processo foi interrompido pela brutal intervenção militarista e autoritária. A educação popular refugiou-se, então, nas organizações não-governamentais e, em alguns casos, na clandestinidade.

    Com a retomada do processo democrático também se redefiniu a relação entre a sociedade civil e a sociedade política, entre os movimentos populares e o Estado. Na crise da educação popular na América Latina hoje, muitos educadores encontram saída no interior do Estado capitalista, abrindo espaço para a construção da educação pública popular, procurando tornar popular a educação pelo Estado.


    A grande utopia da educação popular dos anos 50 visava a conquista do Estado e a mudança radical da política econômica e social. Hoje, o que assistimos é a educação popular dispersando-se em milhares de pequenas experiências, perdendo aquela grande unidade teórica, mas ganhando em diversidade. Esses numerosos movimentos trazem no seu bojo uma nova concepção da educação popular e do Estado.

    Os movimentos populares nos anos 60 e 70 viam o Estado como organizador de bem-estar social e a questão era pressioná-lo na medida certa para obter dele as demandas. Hoje, a nova visão do Estado baseia-se na ideia de construir alianças em que eles não querem apenas receber os benefícios sociais, mas participar como sócios, parceiros na definição das políticas públicas. É o caso do MOVA-SP, que a autora analisa aqui.

    Antes, os movimentos populares tinham um caráter revolucionário ou reivindicativo. Hoje eles são predominantemente programáticos.

    A educação popular tem a seu favor o surgimento das novas forças de poder local democrático e também a presença nos aparatos burocráticos estatais de antigos militantes ou simpatizantes do movimento de educação popular. Ma tem sobretudoa uma nova arma teórica, que nasceu da prática da organização popular, para enfrentar os novos desafios desse final de século.

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